Frequentemente, indivíduos que necessitam iniciar tratamento com medicações psiquiátricas são “bombardeados” por informações distorcidas em relação aos efeitos dos psicotrópicos. Esta antiga “fama” é sustentada, muito provavelmente, pelo histórico das terapias empregadas no passado (insulinoterapia, eletroconvulsoterapia, antipsicóticos em altas dosagens, entre outras) que, de fato, geravam graves efeitos colaterais nos pacientes.
Felizmente, o avanço da neurociência fez com que os tratamentos medicamentosos evoluíssem de forma importante nas últimas décadas. Os psicofármacos atuais são diversos, mais potentes e mais seguros quanto aos efeitos colaterais e adversos. Desta forma, houve melhora da adesão do paciente ao esquema medicamentoso proposto e, consequentemente, maior sucesso terapêutico.
A grande relevância no esclarecimento das distorções cognitivas a respeito dos psicofármacos é possibilitar aos indivíduos portadores de transtorno psiquiátrico alívio do seu sofrimento através da farmacoterapia. Em outras palavras, o trabalho de psicoeducação pode reduzir o impacto psicossocial gerado pelas doenças mentais, combatendo a perpetuação do preconceito associado tanto ao diagnóstico, quanto ao tratamento psiquiátrico.
“Medicamento psiquiátrico vicia?”
Atualmente, existem diversas classes de psicotrópicos com diferentes mecanismos de ação. A maioria das medicações utilizadas pela psiquiatria, como antidepressivos e antipsicóticos, não apresenta risco de dependência química. Os fármacos que podem gerar este efeito são os tranquilizantes (benzodiazepínicos). No entanto, se o paciente realizar acompanhamento especializado corretamente, é pouco provável que se torne dependente químico destes remédios. Esta classe medicamentosa é prescrita para períodos específicos da vida do indivíduo, sendo o plano de redução e retirada uma regra no tratamento.
“Todo medicamento psiquiátrico deve ser tomado para o resto da vida”
Existem protocolos de tratamento, embasados em evidência científica, que orientam a conduta nas diversas patologias psiquiátricas. O que determina o tempo de tratamento não é o remédio e sim, a própria doença. O plano terapêutico consiste em início, manutenção e retirada ou redução máxima possível, na maioria das vezes.
“Todo medicamento psiquiátrico engorda”
A alteração de peso, muitas vezes atribuída ao uso da medicação é, frequentemente, decorrente da própria doença. Na prática, com a remissão dos sintomas observa-se a recuperação do peso habitual do indivíduo. O avanço da psicofarmacologia tem desenvolvido medicações cada vez mais seletivas e com menor potencial de efeito adverso.
“Não estarei tratando a causa do problema usando medicações, somente aliviando sintomas superficiais”
Como relatado anteriormente, o componente biológico é uma parcela do problema, que deve ser cuidadosamente avaliado. Muitas vezes, sintomas orgânicos impedem o avanço do paciente no processo psicoterápico. Assim, medicamentos podem atuar em sinergia com a psicoterapia.
“Tomar medicamento psiquiátrico substitui psicoterapia”
Não. O aspecto biológico é um dos fatores, mas não o único. A ressignificação de alguns conteúdos, conscientes ou não, só será atingida através do processo de psicoterapia.
“Antidepressivos causam disfunção sexual”
Assim como outros sintomas, a disfunção sexual pode fazer parte do quadro psiquiátrico em que o indivíduo se encontra. Uma pequena parcela dos pacientes pode apresentar redução da libido, atraso ejaculatório ou anorgasmia, os quais podem ser resolvidos com ajuste de dosagem ou troca de classe de psicofármaco.
“Gestante não pode usar nenhum tipo de medicamento psiquiátrico”
Atualmente, os estudos científicos asseguram o uso de alguns psicofármacos durante toda a gestação. Pesquisas recentes sugerem que o bebê pode sofrer maiores prejuízos relacionados aos sintomas da doença da mãe do que com os efeitos do medicamento.