Que mulher nunca apresentou crises de choro ou de raiva, compulsão alimentar ou exaustão físico-emocional no período pré-menstrual? Seguramente, a maioria das mulheres já experimentou alguma sensação exacerbada nesta fase do seu ciclo menstrual. Assim, a maior parte das pessoas sabe o que significa Tensão Pré-Menstrual (famosa TPM). No entanto, é pequena a parcela da população que realmente tem conhecimento de que esta “montanha russa hormonal”, tão característica do universo feminino, possa configurar um transtorno psiquiátrico em alguns casos.
Por muitos séculos, o sofrimento gerado pela TPM foi negligenciado, cientificamente falando, por receio de se patologizar uma ciclagem hormonal fisiológica feminina. De fato, a maior parte das mulheres em idade reprodutiva apresenta alterações naturais, tanto físicas quanto emocionais, no período que antecede a menstruação. Em outras palavras, não há processo patológico. Contudo, existe um grupo que manifesta sintomas intensos, acarretando em maior impacto nos relacionamentos interpessoais e na sua funcionalidade durante este período. Os prejuízos nas atividades diárias e os sintomas somáticos têm tamanha relevância que houve aceitação sobre a identificação de um transtorno psiquiátrico.
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) foi identificado e nomeado em 2012 pela Associação Psiquiátrica Americana. Esta síndrome é classificada como um transtorno depressivo, com prevalência de 5 a 8% das mulheres em idade fértil. Este distúrbio acontece ciclicamente e caracteriza-se por surgimento de alterações físicas e psíquicas durante a fase lútea do ciclo menstrual. A etiologia é multifatorial, sendo a hereditariedade um fator importante no risco do desenvolvimento do transtorno. Os sintomas são diversos e com graduações distintas, dificultando a diferenciação entre reação fisiológica e quadro patológico. Labilidade emocional, irritabilidade, tristeza, ansiedade, cansaço, alteração do apetite e do sono e sintomas físicos (dor nas mamas, dor de cabeça, distensão abdominal) fazem parte da sintomatologia do TDPM.
Desta forma, o diagnóstico do TDPM não é tarefa simples. Não existem marcadores, exames de imagem ou laboratoriais que comprovem a doença. A avaliação clínica cuidadosa, compreendendo a exclusão de outras causas orgânicas, a investigação sobre história pregressa e principalmente a avaliação dos prejuízos causados por este transtorno, é o definidor do diagnóstico. Existem sintomas específicos que precisam ocorrer na semana que antecede ao sangramento menstrual que cessam após o início da menstruação e que tenham acontecido em, pelo menos, dois ciclos menstruais.
Como citado anteriormente, o TDPM acomete uma minoria e é inapropriado generalizar que todas as mulheres que apresentam alguma sensação exacerbada pré-fluxo menstrual deva procurar ajuda especializada. Por outro lado, é um alento para as portadoras de TDPM ter o diagnóstico e receber atenção adequada. O tratamento envolve desenvolvimento e manutenção de hábitos saudáveis como atividade física, higiene do sono e alimentação equilibrada. Também pode ser necessário uso de medicamentos associados à psicoterapia para alívio do sofrimento.