A depressão pós-parto materna é uma doença psiquiátrica já bem conhecida e aceita como condição clínica que merece atenção e cuidados especiais. Em contrapartida, existe um quadro emocional associado ao nascimento de filho que ainda é pouco explorado no meio científico e desconhecido pela população geral: a depressão pós-parto paterna.
Emoções intensas relacionadas à chegada do bebê são perfeitamente esperadas e saudáveis para a maioria dos indivíduos. No entanto, assim como acontece com as mulheres, existe uma parcela da população masculina que sofre de maneira mais comprometedora à chegada de um filho, configurando um quadro depressivo. Os sintomas associados a depressão paterna são semelhantes aos encontrados na Depressão Maior. Desta forma, tristeza, diminuição de energia, da vontade e do prazer nas atividades, distúrbios do sono e do apetite, culpa e irritabilidade são os principais sintomas de um processo depressivo. A depressão pós-parto paterna normalmente inicia após quatro semanas do nascimento da criança e pode se estender até o final do primeiro ano. Em um estudo realizado em 2012, Falceto, Fernandes e Kerber demonstraram que a prevalência dos transtornos psiquiátricos paternos no Brasil está estimada em 11 a 25% da população geral.
Algumas evidências científicas sugerem que, assim como na mulher, há alteração hormonal no período pós parto masculino. É esperado que haja uma diminuição dos níveis de testosterona sanguínea nos homens após nascimento de um filho, podendo gerar labilidade emocional. No entanto, para que uma doença psiquiátrica se desenvolva é fundamental o envolvimento dos fatores biológico, comportamental e ambiental. Desta forma, o que se observa na depressão pós-parto paterna é que existem alguns gatilhos emocionais e distorções cognitivas relacionadas a esta nova etapa da vida que diferem entre o quadro feminino e masculino. O afastamento afetivo da companheira, a diminuição nas atividades de lazer, a alteração brusca na vida sexual e as preocupações financeiras são alguns dos fatores que podem contribuir para maior vulnerabilidade emocional do pai . Além disto, cabe lembrar que o processo de formação de vínculo com o bebê é diferente do que acontece com as mulheres. O pai precisa construir uma relação com este novo ser, enquanto a mãe já apresenta laços desenvolvidos durante a gestação e reforçados pela amamentação.
O caminho para melhor entendimento deste processo emocional masculino tão importante ainda é longo. Além do investimento em pesquisas sobre depressão pós-parto paterna, é preciso haver maior conscientização da população geral fornecida pelo adequado preparo das equipes de saúde. Em outras palavras, as queixas dos pais precisam ser acolhidas e valorizadas para que intervenções possam ser desenvolvidas e prejuízos familiares (sofrimento da tríade pai-mãe- bebê) evitados.
Sugestão de leitura complementar:
Alerta sobre a depressão pós-parto – Olga Falceto, Carmen Fernandes, Suzi Kerber, 2012
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia