Os seres humanos possuem uma necessidade inata de vínculo seguro e pertencimento, começando nas relações primárias com os cuidadores, passando pelas amizades, grupos sociais e relações amorosas. Essa necessidade de estimular afeto positivo na mente dos outros acaba por gerar regras de competências positivas de autoavaliação. Com isso, as pessoas, por instinto de defesa, iniciam uma luta árdua para esconder suas possíveis imperfeições que, para elas, poderiam causar a dor da rejeição e/ou não aceitação.
Experiências de negligência, abuso, rejeição e criticismo familiar, bem como experiências de bullying, discriminação, preconceito e estigma social, alimentam o que Paul Gilbert caracteriza por Vergonha Interna (atribuição interna julgadora e negativa) e Vergonha Externa (experiência social dolorosa). Para lidar com crenças pessoais de inadequação e com o medo da rejeição, os indivíduos podem buscar estratégias de busca exagerada pela perfeição e cumprimento total de expectativas de padrões de exigências sociais.
Mas qual o problema em tentar ser perfeito? Geralmente a dificuldade de tolerar a própria imperfeição, ou mesmo características que não sigam um padrão de perfeição, gera sintomas de ansiedade, depressão e muitas dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Quando as pessoas não entendem suas dificuldades, vulnerabilidades e fragilidades como aspectos aceitáveis de si, dificilmente conseguem ser espontâneos e mostrar seus verdadeiros sentimentos e emoções. Desse modo, é bastante comum que a tentativa de esconder defeitos também esconda muitas qualidades e até mesmo diminua a capacidade de conexão com as outras pessoas.
A Terapia do Esquema visa à mudança de autoconceitos centrais arraigados, tais como o de ser inadequado ou inaceitável, ressignificando também possíveis memórias sensoriais traumáticas vividas ao longo da formação da personalidade. Para Jeffrey Young, autor da teoria, na medida em que o indivíduo muda crenças centrais desadaptativas sobre si, não precisará mais de tantas estratégias de proteção, então, conseguirá ter relacionamentos mais genuínos e satisfatórios. Também a Terapia Focada na Compaixão, desenvolvida por Paul Gilbert, ajuda com que o indivíduo tenha uma atitude menos julgadora e mais compreensiva sobre si mesmo e suas experiências, desenvolvendo uma maior aceitação das próprias limitações, imperfeições e dificuldades, entendendo-as como parte de uma experiência humana comum.
A luta pela perfeição dificilmente permitirá com que a pessoa aceite o amor genuíno e a valorização por parte das outras pessoas. Sendo assim, o caminho da busca pelo amor próprio, pelo o aumento da tolerância consigo mesmo e pela autocompaixão ajuda a melhorar a forma como o indivíduo se relaciona. Ao se mostrar de forma mais espontânea e humana, ficará nítida uma melhora nos relacionamentos interpessoais, o que fortalecerá a crença de ser merecedor de amor, mesmo sendo imperfeito.